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terça-feira, 29 de novembro de 2011

“SALVE”, CAPOEIRA

Por: José Gonçalves do Nascimento
Presidente da Academia de Letras e Artes de Senhor do Bonfim



No princípio

As origens da capoeira no Brasil remontam à entrada dos primeiros africanos em terras brasileiras. Ao chegar no Brasil, os africanos perceberam a ncessidade de desenvolver técnicas de proteção contra as atrocidades  a eles infligidas pelos senhores de escravo.

Os negros, todavia, não tinham autorização para praticar qualquer tipo de luta. Por essa razão, eles passaram a utilizar-se de ritmos e danças trazidos da África, transformando-os em instrumento de resistência. Surgia, assim, a Capoeira, espécie de arte marcial disfarçada de dança.

Desenvolvida próximo às senzalas e terreiros, a prática da Capoeira objetivava também  à conservação da cultura, ao alívio do estresse e à manutenção da saúde. Às vezes, as lutas ocorriam em campos abertos, nas  chamadas capoeiras, tendo-se aí a origem do nome da performance.

Até a década de 30, a prática da Capoeira era proibida no Brasil, por ser considerada algo subversivo. A própria polícia tinha ordens para prender os capoeiristas que porventura fossem encontrados praticando a luta.

Em 1930, mestre Bimba, um dos mais respeitavéis capoeiristas de todos tempos,  apresentou a arte  para  o presidente Getúlio Vargas. Este, ficou tão encantado com o que viu, que acabou declarando a Capoeira como esporte nacional.

Em 2008, depois de mais de 300 anos de história, a Capoeira foi reconhecida como Patrimônio da Cultura Brasileira.


Mestre Alexandrão

Em Senhor do Bonfim, a história da Capoeira começou  nos anos 60 com a chegada de mestre  Alexandrão. Alexandrão, também conhecido como Negro Angoleiro, era natural de Santo Amaro e, chegando em Senhor do Bonfim, pôs-se a ministrar aulas de Capoeira, atuando, inicialmente, em sua própria residência, situada à Rua do Bandeira. Foi professor, dentre outros, de Renato  (família Popó) Rafael, Reginaldo, Antoniel, Felipe, Santo Amaril, José Sampaio, Fausto, João Enfermeiro e Mundinho.

A partir dos anos 70, mestre Alexandrão seria seguido pelos mestres Zé Graça, Wilson, Zé Marcos, Tunga, Rony, Jairzinho Damascena, Viola, Isaías, Marinaldo, Queu, Carlinhos, etc., alguns dos quais ainda em plena atividade.

Na década de noventa, com o objetivo de melhor promover e incentivar a prática capoeirística, os mestres Carlinhos e Viola fundaram a Associação das Academias de Capoeira de Senhor do Bonfim. Ainda com o mesmo propósito, foi fundada, posteriormente, a “Revista União e Capoeira”, a única do Estado da Bahia, hoje na 11ª edição.


Serviços sociais

É de se reconhecer os méritos desses incansáveis e abnegados mestres bonfinenses que, tocados pelo amor incontido à causa da Capoeira, não costumam medir esforços no trabalho diário de disseminação desta belíssima modalidade da cultura afro-descendente. Os serviços sociais por eles desempenhados vão desde os grandes festivais culturais, promovidos a cada ano, até ações mais simples e rotineiras, a exemplo de oficinas de pintura, aulas de alongamento e aeróbica, treinamento de Capoeira, etc., que são oferecidos a jovens, crianças e idosos oriundos das camadas menos favorecidas da comunidade.


Leis

Duas leis, recentemente aprovadas pela Câmara de Senhor do Bonfim e sancionadas pelo Chefe do Executivo Municipal, deverão contribuir para um melhor reconhecimento do papel cultural, educativo e social da capoeira em nosso município. São elas:

1-    Lei nº 1.227/2011, de 16 de setembro de 2011, que institui a Semana Municipal da Capoeira, a ser comemorada no período de 1º a 7 de agosto de cada ano. Diversas atividades, tais como festivais, competições, palestras, exposições audiovisuais, etc., integrarão a grade de comemorações.

2-    Lei nº 1.226/2011, também de 16 de setembro de 2011, que introduz o ensino e a prática da Capoeira nas escolas municipais de Senhor do Bonfim. Entre os objetivos apontados pela referida lei, convêm destacar: 1) proporcionar aos alunos da rede pública municipal o acesso a dados e informações que apontem a importância da capoeira como fator de integração comunidade/escola; 2) analisar e qualificar as condições de utilização da Capoeira como fator de integração social e desenvolvimento da consciência dos cidadãos e cidadãs; 3) produzir material didático, com o fim de disseminar conhecimentos relacionados à prática da Capoeira nas escolas municipais.

A Capoeira bonfinense encontra-se em estado de graça. Tomara que as ações acima referidas possam, de fato, concorrer para um maior e efetivo desenvolvimento da prática da Capoeira em nosso município, de forma a contribuir com a construção de uma cultura que tenha como foco a paz, a justiça social e a plena cidadania.

Oxalá!

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