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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

DISCURSO PROFERIDO DURANTE SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM À SEMANA DA CULUTRA BONFINENSE E 20° ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE SENHOR DO BONFIM

Senhores e senhoras,

Surgida no século IV a.C., do gênio inventivo de Platão, a primeira academia teve lugar nos arredores de Atenas, nos chamados jardins de Academus, herói grego da guerra de Tróia, vivido no século XII a.C. Embora destinada ao culto oficial das musas, ali se desenvolvia extensa atividade intelectual, reunindo-se diversos domínios do saber, como a Filosofia, a Matemática, a Música, a Astronomia e a Legislação.

A obra iniciada pelo filósofo ateniense e continuada por seus discípulos, constitui-se em importante marco do saber ocidental, sendo a fonte originária de todas as academias que, a partir de então, passaram a estabelecer-se no mundo inteiro, marcando épocas e lugares.

A título de ilustração, importa destacar algumas dessas academias: Academia Platônica, fundada em Florença por volta de 1440 – Era a mais famosa da Renascença Italiana; Academia Francesa, criada em 1635, por iniciativa do Cardeal Richelieu, no reinado de Luis XIII; Academia Espanhola, instituída em 1713, por obra de Juan Manuel Fernandez Pacheco, no reinado de Felipe V; Academia Real das Ciências de Lisboa, fundada em 1779, no reinado de D. Maria I, em pleno Iluminismo; Academia Brasileira de Letras, estabelecida em 1896, por Araripe Júnior, Raul Pompéia e Machado de Assis, que foi o seu primeiro presidente.

A fundação da Academia Brasileira de Letras fez desencadear o surgimento das – por assim dizer – academias estaduais, em praticamente todos os estados brasileiros. Entre elas a da Bahia, de 1917. Desse movimento, resultam as demais academias que se seguiram depois e que ainda hoje não cessam de se multiplicar. Conta-se no Brasil, atualmente, com uma constelação de muitas centenas dessas confrarias, cobrindo distintas áreas do pensamento, como a Literatura, as Artes (de um modo geral), o Direito, a Medicina, a Filosofia, a Religião, etc.

Como a academia de Platão, as academias de letras, ao longo da sua história, têm se caracterizado pela capacidade de dialogar, no mesmo espaço e em torno do mesmo objetivo, com os mais diversos campos do conhecimento. É o que Haroldo de Campos chamou de “movimento dialógico da diferença”. No caso em apreço, esta tem sido a condição primordial para a consolidação da unidade dos saberes e, por conseguinte, para a conservação do edifício cultural, na acepção plena da palavra.

Para Noberto Bobbio, enquanto a política divide – e divide porque vive do conflito – a cultura une – e une porque vive do diálogo. A assertiva do ilustrado pensador italiano traz à memória a palavra balizada de Machado de Assis, que ao tomar posse como presidente da Academia Brasileira de Letras, em 1897, cunhou o escopo daquela entidade: “conservar, no meio da federação política, a unidade literária”.

A ACLASB não foge à regra. Consoante os estatutos que a regem, sua missão capital é unir homens e mulheres de letras e artes, com vistas à promoção e aprimoramento da cultura bonfinense, nas suas diferentes manifestações. Este foi o sonho que moveu os corações dos seus idealizadores, quando da sua fundação, naquele cinco de dezembro de 1991. E para isto nunca faltou empenho, embora nem sempre se tenha obtido o resultado esperado, haja vista as dificuldades que, não raro, costumam rodear esse tipo de atividade.  

Ao completar 20 anos de instalação, a Academia de Letras e Artes de Senhor do Bonfim sela, mais uma vez, seu compromisso com a cultura local, na certeza de que, doravante, além de contar com maior dedicação da parte dos seus honrosos membros, também gozará do apoio afetuoso da comunidade bonfinense.

Ainda no ensejo do seu 20° aniversário, a ACLASB sente-se no dever de reverenciar a memória daqueles que um dia tomaram parte no seu quadro de sócios, sejam eles fundadores ou não, e que hoje já não habitam mais aqui, pelo menos fisicamente.

Guimarães Rosa, em discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, poucos dias antes de morrer, asseverou que “as pessoas não morrem, ficam encantadas”. Lá onde estiverem, nossos venerandos e eternos confrades, seguramente, estão a velar por nós e a alimentar nossos sonhos de uma academia melhor, mais atuante e mais profícua.

Parafraseando Shelley, quando da morte prematura de Keats, diríamos que “eles alçaram seu voo além das trevas das nossas noites”. Por isso, jamais morrerão!


Senhor do Bonfim, 07 de dezembro de 2011

José Gonçalves do Nascimento  - Presidente da Academia de Letras e Artes de Senhor do Bonfim

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