.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O ENCANTO DO CORDEL

José Gonçalves do Nascimento 
Presidente da Academia de Letras e Artes de Senhor do Bonfim 

Há meses no ar, a novela global Cordel Encantado continua encantando o telespectador brasileiro. Não é a primeira vez que o tema ocupa a telinha (ou a telona) da família Marinho. Recordem-se, a propósito, clássicos da teledramaturgia como O Bem Amado, Roque Santeiro, O Auto da Compadecida, Hoje é Dia de Maria, etc. Todavia, Cordel Encantado é a peça que mais se aproxima do mundo fantástico da Literatura de Cordel.
É evidente que alguns elementos precisam ser questionados. No que diz respeito ao cangaço, por exemplo, causa-nos estranheza ver cangaceiros usando brinquinhos, morando em tendas ricamente mobiliadas, dirigindo carro de luxo, frequentando cafés, e circulando quase que livremente sob o olhar da polícia e das autoridades. No tocante ao misticismo religioso, outro elemento presente na trama, o profeta Miguezinho (Matheus Nachtergaele) é apresentado de forma caricata, mesclando momentos de lucidez com surtos de loucura, o que, de certa  forma, acaba contribuindo para a deturpação de uma das figuras mais ricas da religiosidade popular do Nordeste: o beato.
A peça de Thelma Guedes e Duca Rachid, entretanto, ostenta o mérito de trazer para a ordem do dia o tema da Literatura de Cordel com todo o seu universo fabuloso, que vai desde a xilogravura, presente na abertura do folhetim, até o enredo propriamente dito. Trata-se, sem dúvida, de uma grande contribuição para o processo de resgate e preservação da Literatura de Cordel, enquanto manifestação da cultura popular.
Em quase dois séculos de presença em terras nordestinas, a Literatura de Cordel jamais perdeu sua identidade. O segredo disso está na sua força comunicativa. Além da sua beleza poética, o Cordel se caracteriza também pela simplicidade da linguagem e pela objetividade com que trata os temas mais complexos.
Na época em que não havia o rádio nem a televisão e os jornais eram privilégio de poucos, foram os poetas populares os principais responsáveis pela veiculação de informações. Os fatos mais importantes eram levados ao grande público através dos Folhetos de Cordel. Além de jornalistas e repórteres, os cordelistas foram também cronistas, historiadores, humoristas, romancistas, etc.
Os tempos mudaram, mas a Literatura de Cordel continua fascinante. Para muitas pessoas ela é a única opção de leitura. Felizmente, a cada dia despontam novos cordelistas dispostos a darem continuidade a essa tradição cultural.
Viva o Cordel, agora e sempre!

Nenhum comentário:

Postar um comentário